Isto
de andar de bicicleta tem de facto inúmeras vantagens e ter a aptidão e a
capacidade para cobrir longas distâncias permite alargar os nossos horizontes e
elevar o conceito de liberdade e mobilidade até uma dimensão completamente desconhecida
para a maioria. Assim,
Dando
uso ao “heatmap” do Strava dei-me conta que havia uma zona do Alto Minho ainda por
descobrir de bicicleta e assim começou a história de mais uma viagem de
bicicleta…. eu e ela…a sós… com a natureza e a descoberta.
Primeira
fase…os mapas!
Atrás
do computador e dos mapas começou a preparação para “desenhar” uma volta no
Alto Minho, tentando na medida do possível evitar os IC´s, Nacionais e
movimentadas estradas e adequando distancias e altimetrias.
Escolhi
sair de Ponte da Barca em direcção a Arcos de Valdevez. A N101 que faz a
ligação de Ponte da Barca a Monção pelo “Street View” não me agradou. Escolhi assim seguir uma estrada paralela a
esta (no caso a Nac. 202-2) seguindo em direcção a Norte (Monção) e em seguida paralelo
ao Rio Minho em direcção a Melgaço.
Já
em Melgaço, subir para Castro Laboreiro, e após um ligeira incursão por
Espanha, regressar a Portugal junto à albufeira do Lindoso cumprindo o resto do
percurso paralelo ao Rio Lima até me encontrar de novo no ponto de partida.
Segunda
fase… o estudo!
Resultou
desta primeira fase um “track” (Alto Minho 2.2) de aprox. 160km com D+2600 em
cujo o perfil sobressaíam duas subidas relevantes, cerca de 10km a anteceder a
Aldeia de Sistelo e a subida de Melgaço para Castro Laboreiro com aprox. 26km e
uns 1000m de desnível a vencer. Depois de avaliar dentro do possível o estado
das estradas la ficou definida a versão final do track” a cumprir o Alto Minho
2.2.
Por
em prática…
Sexta-feira
à noite (24/07/2015)
Bike
pronta e toda a parafernália que nós “ciclistas” já nos habituamos a carregar…algum
alimento (2 barras e dois géis), dois bidons (agua + sais), Gps com o track e…cama
que às 6h00 ele toca…
Sabado
o grande dia (25/07/2015)
6h00
e o entusiasmo em alta, pequeno-almoço leve tomado e siga para Ponte da Barca…
8h00
arranque da pedalada…
Por
entre aldeias minhotas com solares, tanques de granito, videiras de alvarinho,
animada passarada e um constante sobe e desce a estrada não desiludiu mas o
vento dificultou um pouco. Ciclista minimamente experiente sabe que o perfil de
uma estrada nunca correspondente à realidade que vamos encontrar e o constante
sobe e desce, mas principalmente a incomodativa e desafiante companhia do vento
frontal, tornou os primeiros quilómetros mais complicados do que eu havia
antecipado.
Aldeia
de Sistelo
Tive o primeiro contacto
com esta aldeia por intermédio do Daniel Pinho com quem “volta e meia” partilho
a roda. Na ocasião falou-me numa aldeia minhota cheia de socalcos encravada no
meio de montes e vales ali algures no Alto Minho. A descrição correspondeu ao
que encontrei e depois de evitar o contacto com um desconfiado bovino que me
fitou fixamente e que me elevou subitamente o pulso, lá fiz a primeira paragem
para umas fotos.
De volta ao
selim prosseguimos viagem em direcção a Monção por entre as vinhas da casta Alvarinho
e antigos solares até que, no meio de uma enorme vinha e na localidade de
Longos Vales deparo-me com a entrada de uma quinta que parecia não pertencer
ali. Mãos nos travões (vinha lançado a descer) e mais umas fotos para mais
tarde “googlar” a descoberta e saber afinal o que eram aqueles edifícios em aço
corten que “poisaram” ali.
Tratava-se
da Quinta D´Pedra … http://www.revistadevinhos.pt/artigos/show.aspx?seccao=enoturismo&artigo=16638&title=quinta-da-pedra-natureza-e-estilo-de-maos-dadas&idioma=pt
Umas
fotos depois estava de regresso à estrada pois faltavam uns 120km para o
destino.
Até
Melgaço a estrada era ladeada pelo Rio Minho (com Espanha na outra margem) e
uns quantos solares.
Melgaço e a grande subida do dia
A subida adivinhava-se exigente com cerca de 26km de
extensão em que partia de uma quota relativamente baixa +/-70m até 1030m de
altitude em Castro Laboreiro. Em contrapartida, ia fintar o vento que deixaria
de me fazer companhia.
Após as Termas de Melgaço (arvoredo
bem bonito por sinal) ligo os motores e la fui eu a dar tudo o que tinha.
Surpresa, a subida é bastante amigável, nunca tem grandes pendentes, tem óptimo
piso e serpenteia tranquilamente por ali acima e só a espaços parece querer
dificultar-nos a tarefa.
As grandes paisagens
esperam por mim lá em cima e não desiludem…
Uma vez no topo, e com cerca de 90km nas pernas, o
calor começa a fazer-se sentir e os bidons quase vazios. Era portanto hora de passar
a fronteira e procurar o reabastecimento liquido.
O piso da estrada do lado
espanhol é bastante melhor e as vistas amplas. Mas como diz o ditado de
“Espanha nem bons ventos nem bons casamentos” e la veio o vento de novo
garantir que não me sentiria sozinho.
Depois de abastecer os
“bidons” numa fonte ali na zona (que não era verdadeiramente digna de uma foto)
la encarei a descida até à albufeira do Lindoso.
Já em Portugal e com o
calor apertar mais a sério (uns 34º graus segundo o gps) vejo-me no meio de
tendas de comes e bebes, frangos de churrasco, farturas e venda de roupa e
peúgas a 1,5€ que ainda me brindaram com incentivos …“força que os outros ainda
não passaram” e enfrentando ainda umas quantas colinas que por ali há, lá
cheguei a Ponte da Barca de onde havia partido.
Resumo:
O percurso não é muito
exigente e correspondeu às expectativas que a preparação e estudo tinham
revelado. Para memória futura a aventura terminou com os seguintes números:
Distancia: 157,4km / Tempo
de movimento: 5:56:50
Média 26,5km / Vel. Max 64,4km/h
D+2583m / 2 barras
energéticas / 1 Gel / uns 3 litros de água
E a alma rejuvenescida.
A próxima? Já esta na
primeira fase…os mapas.
Rui Miguel Abrantes - Porto
Cycling Team