terça-feira, 28 de julho de 2015

Alto Minho 2.2


Isto de andar de bicicleta tem de facto inúmeras vantagens e ter a aptidão e a capacidade para cobrir longas distâncias permite alargar os nossos horizontes e elevar o conceito de liberdade e mobilidade até uma dimensão completamente desconhecida para a maioria. Assim,
Dando uso ao “heatmap” do Strava dei-me conta que havia uma zona do Alto Minho ainda por descobrir de bicicleta e assim começou a história de mais uma viagem de bicicleta…. eu e ela…a sós… com a natureza e a descoberta.
Primeira fase…os mapas!
Atrás do computador e dos mapas começou a preparação para “desenhar” uma volta no Alto Minho, tentando na medida do possível evitar os IC´s, Nacionais e movimentadas estradas e adequando distancias e altimetrias.
Escolhi sair de Ponte da Barca em direcção a Arcos de Valdevez. A N101 que faz a ligação de Ponte da Barca a Monção pelo “Street View” não me agradou.  Escolhi assim seguir uma estrada paralela a esta (no caso a Nac. 202-2) seguindo em direcção a Norte (Monção) e em seguida paralelo ao Rio Minho em direcção a Melgaço.
Já em Melgaço, subir para Castro Laboreiro, e após um ligeira incursão por Espanha, regressar a Portugal junto à albufeira do Lindoso cumprindo o resto do percurso paralelo ao Rio Lima até me encontrar de novo no ponto de partida.
Segunda fase… o estudo!

Resultou desta primeira fase um “track” (Alto Minho 2.2) de aprox. 160km com D+2600 em cujo o perfil sobressaíam duas subidas relevantes, cerca de 10km a anteceder a Aldeia de Sistelo e a subida de Melgaço para Castro Laboreiro com aprox. 26km e uns 1000m de desnível a vencer. Depois de avaliar dentro do possível o estado das estradas la ficou definida a versão final do track” a cumprir o Alto Minho 2.2.





Por em prática…
Sexta-feira à noite (24/07/2015)
Bike pronta e toda a parafernália que nós “ciclistas” já nos habituamos a carregar…algum alimento (2 barras e dois géis), dois bidons (agua + sais), Gps com o track e…cama que às 6h00 ele toca…
Sabado o grande dia (25/07/2015)
6h00 e o entusiasmo em alta, pequeno-almoço leve tomado e siga para Ponte da Barca…
8h00 arranque da pedalada…
Por entre aldeias minhotas com solares, tanques de granito, videiras de alvarinho, animada passarada e um constante sobe e desce a estrada não desiludiu mas o vento dificultou um pouco. Ciclista minimamente experiente sabe que o perfil de uma estrada nunca correspondente à realidade que vamos encontrar e o constante sobe e desce, mas principalmente a incomodativa e desafiante companhia do vento frontal, tornou os primeiros quilómetros mais complicados do que eu havia antecipado.
Aldeia de Sistelo
Tive o primeiro contacto com esta aldeia por intermédio do Daniel Pinho com quem “volta e meia” partilho a roda. Na ocasião falou-me numa aldeia minhota cheia de socalcos encravada no meio de montes e vales ali algures no Alto Minho. A descrição correspondeu ao que encontrei e depois de evitar o contacto com um desconfiado bovino que me fitou fixamente e que me elevou subitamente o pulso, lá fiz a primeira paragem para umas fotos.



















De volta ao selim prosseguimos viagem em direcção a Monção por entre as vinhas da casta Alvarinho e antigos solares até que, no meio de uma enorme vinha e na localidade de Longos Vales deparo-me com a entrada de uma quinta que parecia não pertencer ali. Mãos nos travões (vinha lançado a descer) e mais umas fotos para mais tarde “googlar” a descoberta e saber afinal o que eram aqueles edifícios em aço corten que “poisaram” ali.




Umas fotos depois estava de regresso à estrada pois faltavam uns 120km para o destino.
Até Melgaço a estrada era ladeada pelo Rio Minho (com Espanha na outra margem) e uns quantos solares.



Melgaço e a grande subida do dia
A subida adivinhava-se exigente com cerca de 26km de extensão em que partia de uma quota relativamente baixa +/-70m até 1030m de altitude em Castro Laboreiro. Em contrapartida, ia fintar o vento que deixaria de me fazer companhia.
Após as Termas de Melgaço (arvoredo bem bonito por sinal) ligo os motores e la fui eu a dar tudo o que tinha. Surpresa, a subida é bastante amigável, nunca tem grandes pendentes, tem óptimo piso e serpenteia tranquilamente por ali acima e só a espaços parece querer dificultar-nos a tarefa.
As grandes paisagens esperam por mim lá em cima e não desiludem…











Uma vez no topo, e com cerca de 90km nas pernas, o calor começa a fazer-se sentir e os bidons quase vazios. Era portanto hora de passar a fronteira e procurar o reabastecimento liquido.


O piso da estrada do lado espanhol é bastante melhor e as vistas amplas. Mas como diz o ditado de “Espanha nem bons ventos nem bons casamentos” e la veio o vento de novo garantir que não me sentiria sozinho.



Depois de abastecer os “bidons” numa fonte ali na zona (que não era verdadeiramente digna de uma foto) la encarei a descida até à albufeira do Lindoso.




Já em Portugal e com o calor apertar mais a sério (uns 34º graus segundo o gps) vejo-me no meio de tendas de comes e bebes, frangos de churrasco, farturas e venda de roupa e peúgas a 1,5€ que ainda me brindaram com incentivos …“força que os outros ainda não passaram” e enfrentando ainda umas quantas colinas que por ali há, lá cheguei a Ponte da Barca de onde havia partido.
Resumo:
O percurso não é muito exigente e correspondeu às expectativas que a preparação e estudo tinham revelado. Para memória futura a aventura terminou com os seguintes números:
Distancia: 157,4km / Tempo de movimento: 5:56:50
Média  26,5km / Vel. Max 64,4km/h
D+2583m / 2 barras energéticas / 1 Gel / uns 3 litros de água
E a alma rejuvenescida.

A próxima? Já esta na primeira fase…os mapas.

Rui Miguel Abrantes - Porto Cycling Team