quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O meu comando!

No dia-a-dia lidamos com inúmeras situações que gostaríamos de evitar ou que era melhor simplesmente não terem existido, situações em que temos a sensação que podíamos ter reagido de outra forma ou devíamos ter dito aquilo e não aqueloutro. Basicamente situações em que gostávamos por exemplo de ter uma das funcionalidades que hoje existe em todos os computadores e que dá, de facto, imenso jeito. O nome disso?

Em português...Anular introdução. Em estrangeiro…Undo!

A alma que se lembrou de desenvolver uma funcionalidade destas, que nos permite reverter para a acção anterior, merecia uma estátua numa praça central mas com acesso vedado aos pombos.
A ideia é brilhante e não sei mesmo como ainda nenhum argumentista se lembrou de criar um super-herói dos tempos modernos munido simplesmente de um comando com a função “undo” para impedir que o mal tome o mundo.

Esse poder está hoje em inúmeros programas e, para a grande maioria de nós, é um dado adquirido cujo valor tendemos a menosprezar. Mas eu nem quero imaginar se, subitamente, deixasse de ser possível fazer “undo” e de poder reverter aquela asneirada. Que pesadelo!

Ver alguém a descobrir que existe essa função num qualquer processador de texto é testemunhar a felicidade estampada na cara de quem acaba de concluir que pode não fazer bem “à primeira”… e que bem sabe ter essa possibilidade.

Este particular poder sabe tão bem que é difícil de aceitar que alguém nos tenha imposto um limite e portanto que só seja possível reverter até x acções anteriores. Difícil de compreender… porque raio alguém é tão sádico ao ponto de dar esse poder e depois estabelecer um limite ao nosso pequeno prazer de anular, refazer, reconstruir, alterar, inovar?

Imagino o que seria ter a função disponível num comando para andar por aí a fazer e desfazer numa de justiceiro implacável…

Imaginem as eleições, o resultado do jogo, o dia de sol, a batidela no carro, o refugado mal conseguido e a discussão de ontem à noite. Haaa como era bom!!!

Mas o “undo” é apenas um bom exemplo de uma funcionalidade para o meu comando…. e um Delete? Um Shutdown? Terminar sessão? e a cerejinha…o Reset! Tudo coisinhas singelas e uteis que o meu computador tem e que o meu comando teria…

O que eu me divertia com um “comandinho” desses…

Até à próxima…

coisa!
RMA


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Uma crónica "Gourmet"

De repente estou rodeado de coisas gourmet, restaurantes gourmet, lojas gourmet, comida gourmet, bebida gourmet, objectos gourmet e toda uma panóplia infindável de coisas com o raio da designação "franciú". A verdade é que não foi por acaso que repeti a palavra "gourmet" tantas vezes,  é exactamente a sensação que tenho quando ando por aí, de repente passou tudo a ser gourmet como que, subitamente, tudo ficou melhor, mais francês e refinado, mais cuidado, mais saboroso e com uma qualidade superior que sem a maldita designação não existia. Aliás qualidade que não exista há 10 dias atrás...mas agora já existe, porque agora é... "gourmet"

Bem sei que o marketing é mesmo assim, faz o seu trabalho para que se venda e se procure ter, para que se queira desesperadamente mesmo correndo o risco de levar o conceito à exaustão e inevitavelmente à vulgaridade. A receita é conhecida, com a designação "light" passou-se o mesmo até se chegar ao ridículo...leite condensado "light"??? Mas quem é que compra leite condensado "light"?? Quem está em dieta e não a quer estragar?? Enfim...

Regressemos ao tema...

É fácil saber quando alguém foi a um restaurante Gourmet porque as pessoas fotografam os pratos antes de comer e metem na net para toda a gente ver...são quase sempre servidos em pratos originais e todos deviam vir com a opção "zoom" junto dos talheres. São normalmente vistosos, coloridos, recheados de propriedades especiais e raras que só os pratos gourmet conseguem juntar numa coisa tão pequena. Há ainda quem vá mais longe e detalhe o que vai comer para deixar o resto do mundo pasmado com tamanha obra de arte. Vejam bem...vou comer esta tira de carne de alce, com beterraba do Alasca, courgette grelhada da serra da Malcata, um risco de xarope de amora e por cima uma erva que só cresce nas vertentes noroeste de uma montanha na Tasmânia.  Há bom...se é isso tudo, é mesmo tão exclusivo que só pode ser bom...mas mesmo que seja mau desconfio que o entusiasmo é tanto que até nos obrigamos a gostar daquilo. Claro que no fim a conta também se justifica já que todos conseguimos entender que mandar um desgraçado à Tasmânia apanhar ervas deve ter os seus custos, pois claro!

E as lojas Gourmet?

Essas distinguem-se porque têm muitos produtos biológicos, atendimento personalizado, a apresentação dos produtos é mais cuidada e vendem produtos como se fossem uma coisa nova ... azeite biológico? pão de Izeda? paté de atum em azeite tradiconal? Queijo de Nisa? Compotas em bisnagas??? Tudo muito bem embrulhado em papel manteiga para parecer tradicional...basicamente para parecer qualquer coisa que não veio de um hipermercado e é muito exclusivo!

Às vezes pergunto-me como foi possível ter-se chegado ao ponto em que se celebra ter conseguido umas tronchudas da beira ou o atendimento simpático com que a loja recebeu o "freguês". Não devia isso simplesmente ser a regra? A normalidade devia ser "gourmet"!! Irrita-me ainda mais esta imagem estar associada a uma palavra francesa quando nós os portugueses podíamos dar lições de bem receber e simpatia aos "avecs" e não o contrário. 

A verdade é que a estratégia parece funcionar e a prova é que o numero de "estaminés gourmet" cresce a bom ritmo...a um ritmo tão elevado que agora há hipermercados com área gourmet e tudo. Julgo mesmo que não tardará muito esta área será alcatifada, com a Smooth Fm como música de fundo e porteiro, vestido com um blazer de punhos e insignias douradas, à porta a avaliar se aquele individuo tem ou não cara de quem paga 10€ por uma sardinha enlatada com azeite da herdade do monte da ervilha.

Julgo que, mais cedo do que tarde, a moda do "gourmet" acabará  por passar e virá uma nova designação estrangeira cheia de pinta que nos fará querer muito alguma coisa...mas o que era mesmo simpático é que fosse rápido porque a história do "gourmet" já enjoa!

Até à próxima...

Se houver...

RMA

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

As cores cá em casa!

A crónica desta vez tem como tema uma velha “discussão” que no dia-a-dia tenho cá em casa e que uma vez mais suspeito que seja comum a muitos dos que me lêem. As cores!

Em princípio as cores não deviam suscitar qualquer tipo de dúvida ou discussão mas, de facto, cá em casa estamos muito longe de estar de acordo.

Aparentemente os olhos da Margarida são muito mais refinados que os meus, conseguem distinguir bastantes mais cores e ela usa detalhes incríveis para “afinar” a cor que quer identificar. Chega a um detalhe tal que lhe atribui textura, cheiros e até sabor o que me faz sentir verdadeiramente confuso. 

Quando se junta com uma amiga e falam sobre cores fico sempre pasmado, já que a conversa flui normalmente sem que haja uma réstia de dúvida ou incerteza relativamente a que cores se referem. Sabem ambas instintivamente que termo usar para a identificar e com um detalhe tal que faz da cor muito mais do que um simples verde ou amarelo. 

Eu até entendo a junção de duas cores como um azul esverdeado ou um amarelo alaranjado mas trata-se tão só de juntar duas cores que existem e não pegar em algo que simplesmente não é cor e adicionar à palete assim sem avisar ninguém.

Mas há situações ainda mais estranhas para mim, casos em que não se dão sequer ao trabalho de a referir como cor e mesmo assim sabem do que se trata… aquelas cortinas champagne ou aquela t-shirt salmão? Para mim isto já ultrapassa largamente a palete de cores que vinha nos lápis de cor, mesmo nos "pack´s" mais completos de 12 ou 24. 

É claro que identifico que aquele verde é diferente do outro, é mais claro ou mais escuro…agora é mais água?? Mais lima? Verde seco? Verde musgo? Verde alface? Verde garrafa? Arreeee….

Usa ainda outras coisas para “refinar” a cor…

…para mim Salmão, Mostarda, Creme, Pastel ou Chocolate são bens comestíveis e não cores, mas para ela são muito mais do que isso, são também cor e o salmão não é simplesmente uma espécie de cor-de- laranja, ou mesmo alaranjada…para ela é demasiado óbvio que a cor é salmão. Ora para mim e num abrir e fechar de olhos, numa qualquer loja de roupa, o que sempre foi um peixe ganhou de repente toda uma nova dimensão… passou a ser uma cor!!!

E o azul? Para mim existe o azul que pode ser mais claro ou mais escuro mas para ela existe uma infinidade de azuis para além da minha básica distinção. Portanto se me referir simplesmente a uma t-shirt azul corro sérios riscos de levar como resposta qual azul?? … azul marinho, azul petróleo, azul bebe? Já agora pergunto-me se haverá alguma diferença entre azul bebe e azul cueca…

Há ainda situações estranhíssimas… 

então o Camel não era tabaco? Agora de repente passou a ser uma cor? Usam animais para definir cores…cinza rato? Mas não há ratos de outra cor? E só o branco é que tem a cor “branco sujo”? Acham isto justo?

A verdade é que actualmente já sei toda uma nova palete de cores que em algumas situações me esforço por partilhar com ela no tom de voz mais colocado e confiante que sou capaz de fazer. Na verdade esperava que a reacção quando me ouve fosse de alegria por eu já saber mais umas quantas cores mas não, para ela é tão normal e já faz parte do seu vocabulário há tanto tempo, que nem se dá conta que estou a calcorrear a medo um território completamente novo. O território é novo e inovador já que enquanto me dediquei a escrever esta “crónica” descobri um sem número de cores que não conhecia e que não sou, e desconfio que nunca serei, capaz de identificar. Fúchsia? Indigo?

Só espero que os dias cinzentos acabem rápido…sim cinzentos…não são cinza ardósia nem cinza fosco! São simplesmente cinzentos esta bem?

Até á próxima “crónica”… 
se existir!

RMA

domingo, 12 de janeiro de 2014



Será que estou sozinho?


Aparentemente o planeta terra parece ter algo pessoal contra mim mas pressinto que poderei não estar sozinho. Eu explico…


O planeta tem uma vida bastante monótona, aliás, pouco mais faz do que rodar sobre si próprio e à volta do Sol e há milhões de anos que é assim. Sucedem-se as semanas, dias, horas, minutos e segundos e ele sempre na mesma…a rodar e a girar. Convenhamos que não tem uma vida muito excitante nem é muito imaginativo mas a verdade é que ainda tem oportunidade para me arreliar o tempo e escolhe cuidadosamente cada momento. 

Vejamos…

Na verdade custa-me muito a acreditar que rode sempre à mesma velocidade e com o mesmo ritmo mas tenho dados concretos para suportar os meus receios. 

Juro a pés juntos que nas últimas férias de Verão ele acelerou o ritmo, aquilo foi um só andar, cheio de pressa para chegar precisamente àquele dia, parece que o estupor adivinha e a partir daí volta a reduzir o ritmo. Ainda me querem fazer crer que os dias no Verão são mais longos, dizem-me que tem mais horas de sol…só podem estar a brincar!!!

Depois, a perseguição estendeu-se às recentes férias de Inverno…afinal não era apenas no calor que ele se apressava a rodar mais rápido. Mais uma vez e assim que entrei em férias era vê-lo a toda a “brida” a rodar tão rápido que não sei como não enjoa, e fá-lo como se tivesse um qualquer compromisso urgente ao qual estava obrigado a atender ou então simplesmente rebenta.

Mas não termina aqui, é aos fins-de-semana, feriados e basicamente sempre que estou a fazer alguma coisa que gosto o desgraçado acelera e aí vai ele de “prego a fundo “. Filho da mãe!

A perseguição começava decididamente a chatear-me e tinha um sentimento crescente de revolta contra o planeta até que descobri que posso não estar sozinho…aparentemente ele anda ocupado a chatear mais pessoas e já ouvi várias vezes frases que o indiciam… “já viste que horas são? O tempo passou a voar…” ou “que pena que passou tão rápido” e hoje mesmo ouvi um sonante …“arre que ainda à pouco era Sexta-Feira” 

Nestas ocasiões penso para mim…lá esta o infeliz a fazer das suas. 
Mas vendo bem as coisas ele anda afinal muito ocupado já que chateia tanta gente ao mesmo tempo. A uns porque roda devagar e a outros porque roda depressa. Pensando bem, ele tem uma trabalheira desgraçada…

Não estou sozinho pois não?

Até à próxima…
se houver!

RMA