sábado, 7 de maio de 2016

Montemuro by Faifa


Depois da atribulada prova da semana passada regressei à minha zona habitual de treinos mas voltou também o mau tempo, com chuva e vento previsto para o fim de semana. Fui acompanhando ansioso o windguru e la vi umas abertas para Sábado de manha o que, apesar da ameaça eminente de uma molha e de vento forte, me permitiam ir treinar...

...desta vez fui "a solo" e o meu destino para Sábado?

A Serra de Montemuro!!

Eis o percurso



Tinha em mente uma subida especifica a Montemuro que teimosamente ainda estava por fazer. Teimosamente porque o meu amigo Pedro Lobo Ribeiro já a tinha previsto fazer num treino de Janeiro que me convidou a participar, mas a minha apertada agenda no dia obrigou-me a atalhar caminho e regressar por outros caminhos...sem a fazer.

Esta subida a Montemuro por Faifa estava portanto "na calha" e assim la desenhei o percurso que redundou em aproximadamente 145km e 2900 D+ por forma a que ali passasse juntamente com mais uma parede espectacular cujo segmento criei à pouco tempo atrás e que merecia nova passagem pois quando la passei foi a medo e sem certezas que o piso estivesse transitável.

Assim, sendo o objectivo principal a subida de Faifa com este acumulado havia obviamente muito para subir e portanto ainda cumpri mais umas quantas subidas dignas de nota... mais abaixo falarei delas mais em pormenor.

Passagem em Entre-os-Rios, subir até Castelo de Paiva e daí nova descida até ao Rio Paiva...e começa a primeira subida digna de nota....

Segmento Travanca - Vila Viçosa




é basicamente uma estrada florestal que vai subindo disfarçadamente e que acompanha o Rio Paiva e os seus rápidos que serpenteiam lá no fundo do vale...a estrada vale a pena fazer mas tem tantos pontos de interesse e é tão bonita que é difícil a concentração na performance e no ritmo, é daquelas que é quase desperdiço ir de nariz na roda...

Chegado ao topo, descida até Nespereira e ao vale de onde saem das melhores e mais exigentes subidas a Montemuro...e há várias...Ervilhais, Noninha e outras que este blog se encarregará um dia destes de dar a conhecer com mais detalhe e até o Sobradinho que pela fama e dureza já teve direito a crónica própria http://trotineteazul.blogspot.pt/2015/09/montemuro-via-sobradinho.html

A meteo estava bastante instável mas até aqui tinha-se aguentado bem com excepção do vento que me dificultou o ritmo em subidas sem pendente que o justificasse, mas depois de Parada de Ester começa uma morrinha incomodativa que me fez parar e vestir o impermeável. Temi o pior porque ao meu lado esquerdo, imponente, estava a Serra de Montemuro coberta de nuvens negras...

Pouco depois....à esquerda la está a subida de Faifa...com uma rampa inicial forte em jeito de desafio...

Vamos a isto!

Estrada de Faifa 7,1km a 8,6% média.




A subida é dura e exigente de pendente inconstante no entanto sempre intensa, mas o gráfico de perfil ajudou bastante na gestão do esforço recordava-me que a subida tendia a suavizar do meio para a frente... e de facto assim é. Não é um Sobradinho, nada disso... é mais amigável e a espaços deixa-nos respirar e baixar o pulso. O Sobradinho não é do mesmo campeonato.

No meio das nuvens e de uma persistente e incomodativa morrinha lá fui fazendo a subida sempre na companhia do vento cujas rajadas mais fortes me dificultaram a manutenção de um ritmo constante. Mas a subida lá se foi fazendo no ritmo possível. Pouco depois estava na estrada de Castro Daire para as portas de Montemuro e daí até às bombas foi rolar tranquilamente as pernas...cruzei-me com outro ciclista o que nos dá sempre ânimo achar que não somos os únicos tolinhos a andar ali no meio das nuvens.

Eu e esta serra somos velhos conhecidos, já lhe conheço as manhas e apesar da longa e retemperadora descida até ao Rio Douro parecer tranquila não se pode baixar a guarda temos de a fazer bem atentos... Até baixar a altitude a estrada estava molhada e em dias como este inevitavelmente levamos com rajadas laterais bem fortes que o Montemuro sempre guarda para quem não lhe mostrar respeito.

Depois de perder altitude tudo se torna mais amigável.... vento fraco, estrada seca e nada de morrinha...antes da Barragem de Carapatelo tempo de parar e guardar o impermeável...siga para o próximo objectivo...

Logo após a barragem inicia-se o mais recente segmento que criei e que se veio juntar a uma já longa série de segmentos "Col Rui Abrantes" que já venho coleccionando há algum tempo.

O segmento recém criado https://www.strava.com/activities/527256289#12685847534
merecia uma nova passagem se possível mais rápida do que a passagem a medo que ali fiz para o criar.




Subida tipica de quem gosta de ver ciclismo na tv, com uns S's exigentes e fortes pendentes quase sempre com o Douro e a barragem no nosso campo de visão pelo que sentimos-nos efectivamente a ganhar metros em altitude. Os dois km de extensão têm quase 11% de inclinação média...e dão luta! Uma gestão errada do ritmo e chegamos ao nosso "redline" rapidamente e depois é difícil recuperar de novo um bom ritmo...esta é preciso conhecer muito bem como funciona o nosso corpo e o estado físico em que estamos. Mas ela vale cada metro...

Chegado à estrada nacional e com 110 km já nas pernas sigo agora em direcção ao Rio Tâmega e à Ponte de Abragão onde se inicia a derradeira subida do percurso definido..

Talvez por "levar" com esta subida quase sempre no final dos meus treinos, e portanto já com muitos km's nas pernas, esta é sem duvida das subidas mais traiçoeiras que conheço...

...bastante conhecida e  frequentada por treinos da malta que vem do Porto e se quer esticar um pouco além da tradicional Entre-os-Rios - Porto mas principalmente pelos ciclistas de Penafiel e as famosas escolas de ciclismo da cidade, esta subida é conhecida como a clássica de Abragão...uma 3.ª categoria bem enganadora...9km a 4%.



Fiz a subida já em ritmo mais tranquilo e de motor desligado, para trás já estavam 140km e 2800 de acumulado. Desde o topo pouco mais foi do que rolar e subir calmamente a rampa de Peroselo até finalmente terminar o treino.

No final, devo dizer que a subida de Faifa me surpreendeu, esperava mais dela, outra dificuldade, talvez porque estava à espera que fosse como as subidas irmãs que saem deste vale para a Serra de Montemuro...como Ervilhais e Noninha que impõem outro respeito. Ficou no entanto a mágoa de nao ter a paisagem comigo, as nuvens e o nevoeiro não deixaram e vão portanto obrigar-me a la voltar quando o São Pedro se decidir finalmente a fazer qualquer coisa de jeito por nós ciclistas.

No final o windguru voltou a não falhar e a janela de oportunidade (sem chuva) que tinha visto para o dia bateu certo e foi em cheio...assim que cheguei a casa...começou a chover a serio. Não posso é esperar subir a 1200m de altitude com céu nublado e não andar, literalmente dentro das nuvens....hoje não levei com chuva fui ter com as nuvens!

No final o resultado foi este ...

https://www.strava.com/activities/568171541

Abraços aos leitores
Rui Miguel Abrantes













segunda-feira, 2 de maio de 2016

Douro Granfondo 2016


Foi a 2.ª Edição da prova e a minha segunda presença e se no ano anterior choveu copiosamente nesta edição a meteorologia foi perfeita e reuniram-se as condições ideais para uma excelente prova. Se existe um local de eleição para andar de bicicleta, seja em treino ou competição, o meu é aqui..se há de facto alguma terra a que sentimos pertencer...a minha é esta.

A minha prova começou, como certamente a de todos os atletas, dias antes com a revisão às bikes, "checklist" de tudo o que se deve levar, estudo de altimetria, carregar "tracks" do percurso etc..etc...etc..

Diligentemente (achei eu) meti a bike numa conhecida loja/oficina para lhe fazer a revisão e quando a fui buscar fiquei alarmado com o que me disseram...tens de trocar a transmissão com urgência, cassete e corrente...é urgente! Dilema...trocar componentes antes da prova ou arriscar? Não arrisquei e comprei cassete e corrente nova e no Sábado de tarde la meti a cassete sem nenhum problema. Mas a corrente essa não me quis ajudar nunca. Metida a corrente e os pinos que coloquei para ligar os elos simplesmente não se partiam, 3 ferramentas depois, alicates partidos e pedidos de ajuda (obrigado ao Rodrigo e à Monika que inverteram a viagem deles para o Douro para me vir ajudar) e ainda chateei o Jorge (mecânico) para tentar solucionar o problema (elos rápidos, pinos enfim nada parecia por a corrente como deve ser) mas às 21h00 da noite de Sábado finalmente parecia ter tudo pronto.

Malas à pressa e la consegui ter tudo pronto a tempo de ir dormir umas horas para as 6h00 sair em direcção à Régua.

Estava inscrito no percurso mais longo de 160km e 3200m de subida total, com o Dorsal 453 no meio de 3000 atletas.




Todos reunidos à partida la se tirou a foto da praxe.




Tiro de partida!
https://www.facebook.com/Dourogranfondo1/videos/967245146723780/

Duzentos metros depois da partida e ainda em velocidade controlada pelo carro da organização e a minha corrente parte, caiu da bicicleta e ficou no meio da estrada....tive de esperar que os 3000 atletas passassem para a apanhar no meio da estrada. Já com ela na mão comecei a pé a fazer o percurso em sentido contrário à espera que um apoio mecânico me pudesse ajudar...

Ouvi umas 1000 vezes..."que azar... a corrente!" e outras mil  "olha este já foi"

Caminhei com a bicicleta e corrente na mão os 200 metros de regresso à partida e já na rotunda levantei a corrente (momento apanhado pelo fotografo)...



primeiro parou o carro de apoio da Shimano que me ofereceu uma bike de substituição que recusei na esperança de que um mecânico pudesse por a minha bike em condições. E assim foi, pouco depois parou o apoio mecânico e do carro sai o mecânico, Joaquim Carvalho um tipo vivo, de cigarro no canto da boca e boné ao contrário, que meteu as mãos na bike com tal facilidade que 45 segundos depois estava pronta...Mas não fez apenas isso, o Joaquim deu animo a um tipo que estava frustrado, chateado e desiludido. Eram 9h21, o pelotao tinha partido há 20 minutos!!! Vi na minha mente a reedição da minha odisseia na Águeda Spring Classic...prova estragada e eu no fim do pelotão com 20min de atraso mas fiz da raiva força de tal forma que cerrei os dentes e arranquei dali a dar tudo o que tinha para apanhar de novo a prova...

Estavam na minha frente 3000 atletas e de pouco serve relatar em detalhe como foi o meu esforço de roda em roda, a gerir as  forças intervalando períodos de esforço máximo e descanso na roda de um grupo até recuperar o pulso e saltar para outro, durante quase 6h a uma média final de 27,3km/h mas principalmente a um ritmo cardíaco médio final de 166 bpm dos quais 1h30 acima dos 178 bpm´s de pulso. Quem acompanha estas coisas e sabe interpretar estes dados que estou para aqui a escrever...percebeu agora melhor como foi a minha prova...65% do tempo no "redline" literalmente.


Dos 716 atletas que fizeram a mesma distancia de 160km que eu fiz, apanhei 575 e terminei assim no lugar 187 da geral e 50º do meu escalão (40 aos 50 anos).




 As pernas e o coração nunca me faltaram apesar do enorme esforço que lhes pedi, nunca me faltou também o apoio daqueles que me conhecem e me viram a recuperar lugares, além da minha equipa Porto Cycling Team de referir o Paulo Barbosa, Ricardo Ferraz, Zé Botelho, Pedro Baptista e tantos outros com quem já me cruzei em treinos e outras provas ou que por alguma razão me conheceram ou sabiam o que me tinha acontecido quer porque a palavra passa rápido quer por me tinham visto com 200 m de prova a pé com a corrente na mão.




Entretanto e quando me cruzei em prova com o Zé Botelho estava longe de saber que a nossa curta troca de palavras e a minha subida do Rio Torto até à Pesqueira (Baptizado Muro do Cadão) estava a ser por ele filmada...assim com autorização do próprio aqui fica....

https://www.facebook.com/jalexandre.botelho/videos/1059588034079607/

É também justo agradecer à organização da prova, que me permitiu e apesar do meu azar, continuar e fazer a prova que fiz o que só foi possível fazer-se com uma organização bem montada e bem oleada por trás. Com pontos de hidratação e alimentação em locais estratégicos (no topo de cada uma das grande subidas e que distavam não mais do que 30km uns dos outros) o que foi determinante na gestão do esforço e das necessidades de água e alimento que um esforço destes implica. Mas não foi só, enquanto seguia sozinho um carro da organização perguntou-me se estava tudo bem e se precisava de alguma coisa...não precisava...mas esta atenção e cuidado faz a diferença em quem vai em esforço e pagou um serviço. Mas não foi só, percurso muito bem sinalizado e muita atenção aos detalhes como seja, placas de altimetria e constante presença de pessoas a apoiar os atletas nos pontos mais difíceis do percurso. E só quem anda nisto do ciclismo sabe a diferença que isso faz...

A organização soube sempre colocar-se na pele do ciclista, das dificuldades que tem por ultrapassar e das necessidades e esforço de quem vai em cima daquela bicicleta. Assim, justos parabéns aos organizadores pela forma como prepararam a prova e pela experiência que proporcionaram a quem participou. Ficam sem duvida com uma enorme responsabilidade para os outros eventos que também organizam como colocam a fasquia bem alta para outras organizações o que, para mim participante, é o que realmente importa.

Ponto menos positivo...apenas uma nota para uma situação que se vê nestas provas e com o qual não consigo concordar, a possibilidade de lojas de bicicletas exteriores à organização montarem as suas tendinhas promocionais  na beira de estrada e assim seleccionarem a quem dão apoio e a quem viram as costas. Se por um lado é legitimo que se apoie os seus clientes não é menos verdade que ali estão porque há uma prova de ciclismo com uma organização por trás e sem a qual não estariam ali a apoiar e necessariamente a angariar clientes. Na verdade acho caricata a situação porque para apoiar 30 ou 40 perdem 2000 que são todos aqueles a quem viraram costas no momento em que lhes pediam água e portanto não é só caricato é mesmo idiota ou, na minha perspectiva, mau marketing. Mas enfim apenas um detalhe insignificante que não mancha em nada o trabalho dos organizadores.

Por fim, um abraço ao Paulo Andrade dorsal 192 a quem apanhei ja depois do Pinhão e que, sem nos conhecer-mos e de puro improviso, tanto me ajudou no regresso, trabalhamos imenso em conjunto o que nos permitiu fazer uma média do Pinhão à Régua de 38km/h e já com 130 ou 140km nas pernas e já todo o acumulado feito. Melhor roda não podia encontrar naquele momento. Obrigado Paulo.

Aqui estamos nós



Em resumo e concluindo!

Fiz a prova da minha vida, sem resultado visível numa classificação mas sofrido na pele e nas pernas, novamente uma longa luta contra o azar que uma vez mais caiu sobre mim mas que voltou a não ser tão persistente e determinado quanto eu...foram pernas movidas a raiva as que me levaram até à meta! Da próxima vez em vez de levar a bike ao mecânico vou pensar em ir eu à bruxa.

Cheguei assim, esgotado...



Fica aqui o registo da minha prova https://www.strava.com/activities/562058340 e julgo que vale a pena ver o "flyby" http://labs.strava.com/flyby/viewer/#562058340?c=ebpbpzzz&z=4&t=1N9RSk que mostra bem a minha manha deste Domingo.

Parabéns a todos os que participaram e obrigado pelo apoio durante a prova.

Até breve

Rui Miguel Abrantes